terça-feira, 29 de novembro de 2011

POEMA PARA MINHA FILHA



Fui tomar chá de clorofila. Amarelo.
Num castelo de caramelo concebi minha filha.
Linda! Chama-se Poesia.

Risonha, por vezes taciturna, corria pelos cômodos desde cedo.
Aos quatro anos caiu, cortou-se, sete pontos no braço direito.

Manhosa, birrenta, brincava com pés de pimenta
E se queimava. Ardia-lhe a boca aquelas malaguetas,
Que pensava serem balinhas de morango.

Desde cedo gosta de tango, agarrava-se a minha saia
E trêmula ensaiava longos passos ao som de  “por uma cabeza”
Não fosse em sua essência pura veia poética acho que seria bailarina.
Rodopia entre os cantos, em suave melodia.
Está amadurecendo, em fluidez e candura.

Talvez, quando eu já não mais exista, ela ainda esteja entre vocês
Eternizada em um livro de capa dura.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DOCE VAMPIRA


Na noite ela é negra
De alma corrompida
Ela é ambigüidade em palavras
Bandida...

Na noite ela suga
Cada sopro de vida
Destrói a si mesma
Sem medida.

Na noite ela olha
As vitimas
Face a face!

Pois durante o dia
A poesia
É seu disfarce!

domingo, 27 de novembro de 2011

A DIALÉTICA DO AMOR


Preciso de outra alma, incolor, indolor.
Que não se perca em aflições
Em tantos questionamentos.
Já nem sei se preciso de respostas.
Pois os valores deste mundo não me servem.
Vida hipócrita que me cerca,
Onde o ter suplanta o ser
Desconheço o sono pacífico,
O sono dos justos,
O plácido repouso do espírito.
Há tanto em mim de pesadelo e comiseração
Que esqueço minhas metas.
A ambiguidade sentou-se à minha porta,
Exigindo-me coerência.

Necessito de uma alma que não seja tão vulnerável
Ao desprezo, desleixo,
Ao mundano modus operandi social.
Especialmente ao desprendimento emocional.
Como falar de amor quando as chuvas são de canivetes?
Meu oásis é meu próprio calabouço. A água é sangue.
Gostaria que esse sentir me fosse frio, como o caçador
Que elege, mata e descarta.
E não esta vil condição que me permeia,
Que atravessa a poesia, em golpe desonesto,
Sequestrando-me vida, fazendo-me inconstante.
Tornando o poema um caso natimorto tão denso quanto eu.
Expurguei o amor de mim tantas vezes em ato de
Negação, de preservação do próprio espírito.
Repiquei cada folha, cada confissão, cada grito, os desejos.
Mas em cada forma de reconstrução
O amor driblou as barreiras e refez-se.

Quem sabe fosse minh' alma insensível,
Insensata, inescrupulosa
E assim capaz de dominar a carne,
Escaldando em salmora as minhas feridas purulentas.
Talvez, nem deste modo fossem repelidos os demônios,
Muito menos se obtivesse redenção.
Há sangue do mar de amar
Em meus vermelhos cabelos.
Há um vazio maior que qualquer buraco negro.
Estou em fadiga, em fuga,
Engasgada com a vida.
E assim, sem mais saber a qual deus clamar
Tombei diante do altar como ao mundo vim!
Em aço blindei o corpo absorto
E certa de minha própria morte me entreguei a ti!

Morri em êxtase de infinitos atos carnais,
De estar a flor corpórea da pele cativada por tuas juras!
Fui em oferenda e em saga de cicatrizar uma a uma
As minhas tenras fissuras!
Muito além do córtex e das vontades abismais!
Amei mesmo sem saber se fui amada, íntegra.
Deitada aos pés do sagrado de mim
Permaneci em essência pura
Pois é a busca do amor que me liberta
De toda e qualquer loucura...

sábado, 26 de novembro de 2011

TEMPO DO VERBO



Tempo de se conjugar o verbo amar é tempo bélico,
Tempo térmico.
Do amor que te atravessas sabe Deus,
Tua estrada e as palavras.
Nas imperfeições e exuberâncias
O amor se faz de inconstância,
Conflito tempestuoso de si
Regra-se no sentir.
Alimenta-se de saudade
Reveste-se de vontade.
Quando o teu coração dilacerado clama o amor que em fenômeno
Tornas-te atemporal.
O infinito interno da alma que ama
Não se consola em nada, em qualquer antídoto
É veneno de espuma, a tempestade é o ser.
Assim, restas, além da paixão,
Arrebatado em temor de amor perecer.
É toda a vida ao redor da palavra de quatro letras.
Que teima em persistir.
É toda a vida ao redor da palavra de quatro letras.
Que teima a te perseguir.
É toda a vida ao redor da palavra de quatro letras.
Pouco importa a conjugação.
É toda a vida ao redor da palavra de quatro letras.
Que entregastes o teu coração.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O FETICHE






Eu sou um fetiche de letras.
São o ápice do que desejo, do que vejo.
As beijo, as atravesso em verso.
Apaixonada por essas vontades de me escrever no mundo
(são elas o brilho desses olhos).

Eu tenho fetiche por letras.
Assim somos nós em poética busca da vida, deliciosa sina!
Em vidas que são (alfa+béticas) eu gamo!
E me deito nos poemas, devorando cada palavra.
Devaneio imaginativo, complexo.

E quando caminho em ruas frias elas me aquecem,
Em sentença do sentir vislumbrando minhas epifanias.
Sou literalmente isso. A busca.
A estrada, a magnitude das metáforas,
Talvez em alguma intercorrência do nada
me encontre e me restitua o tudo.

E a ti poema, confesso,
Adoro ler-te como se fosse voyer!
Eu me rendo!
Tu és meu fetiche.
Em cada não impresso eu leio um sim,
E te reescrevo dentro do corpo literal de mim.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

CARTAS DE SANGUE





Quando pertenci ao meu pesadelo era leve
Cega e tudo em aceite, untei o corpo em sangue
Deitei letra sobre letra
Como um jogo. Ambos perdemo-nos.
O tempo passou e a pele transformou-se
Na loucura dos dias em que vigora o silêncio.
Nada temo mesmo em soluços
Quando teimo em ler as nossas cartas.
O amor que se faz no dia a dia
Nessas necessidades mundanas, quebra-se em coisas menores.
A colheita é farta de qualquer forma,
E nos esqueçemos de nós na miséria da vida.
Podres carnes amontoadas em tonéis,
Não houve vinagre, sal, ou álcool que nos conservasse.
Os abutres vieram e levaram nossos restos.
Desde sempre somos assim.
Luz e trevas.
Por vezes temo o reflexo, em outras vejo-te perplexo
Mirando a pseudo existência.
É na densidade a doçura.
E na leveza o azedo.
A boca que acordou seca, os olhos cerrados.
Quando nos faltar tinta, decoraremos nossos versos!?
Ou os tragaremos na eterna noite que nos assola!?
Meu espírito ronda qual lobo faminto
Sorvendo poemas, e sentimentos dos que passam.
Sendo pouco tempo que me resta, e tanto a fazer preciso ir.
Caso me vejas na rua e passe em pressa por ti não pense:
Tudo se acabou. É que estou a procura de mim.

ENTRE CÉU E INFERNO




Vou deixar claro que não sou uma mulher orgulhosa.
Se erro eu peço desculpas. Pois perfeita não sou.
Mas sentada em um café, fazendo o que muito gosto, lendo, encontrei diversas obras de João Cabral de Melo Neto.
Eu nunca tinha lido este autor.
Ele é corpo.
Em reverso no verso.
Fico a pensar em nossa poesia de vida.
Cada um que nos é em tempo de existência, é algo que nos vem por algo.
E às vezes acho que a poesia é em mim essa vontade de fazer amor em outros corpos literais.
Essa doçura de cheiro que fica por debaixo da língua, como o café que tomo agora. Como o desejo inerente da humanidade em completude instantânea.
Eu que sou papel não tenho ego.
E resolvi: me entrego.
A minha procura será sempre a minha palavra.
As letras são o sangue da alma.
Não sei por onde andas, não sei se te feri, pouco sei até de mim.
Às vezes me sinto morta ou magoada. Mas sou cíclica, perdôo e renasço.
Assim não odeio, nada consigo odiar, pois que quase tudo aceito.
Eu não imaginava descobrindo essas coisas, essas vontades escritas, eu que sempre leio leveza e me afundo densa.
Hoje sei que Drummond é Deus em minha terra de letras,
Cabral de Melo Neto é o diabo.
E você é e sempre será quem é.

A MORTE DO CORAÇÃO




Cantei em universo o meu amor finito
Quando olhos queriam ser pintados
Por um sentir mais que bonito
E hoje restam obliterados.

Cantei em plena prosa a vida que sentia
Quando um riso era a pura poesia
E tudo se fluía em plena fantasia, dizia
Que nada mais entre nós se transporia...

Cantei esse canto doído que ainda acompanha
O pouco de vida que ainda me resta
Em noite que toco a minha seresta
Da vida que se escorre com um pouco de manha.

E o que eram aquelas suaves melodias
Que chicotearam o sentir do viajante errante
Que traziam cheiros e perpetuavam o instante
E faziam amor entre suas poesias...

Foi então que novamente ouvi aquele vernáculo
Que brota em meio ao espetáculo
Das letras que se rasgam e me completam.

Sou incerta, em displicente imperfeição
E mesmo sem querer
Matei tua paixão.

Sou desfeita, em recorrente exasperação
E mesmo te querendo
Matei teu coração.

Sou poeta, em minha própria ilusão
E de tanto querer ser amada e te querendo
Matei tua intenção.

Sou imperfeita em recorrente reação
Arranquei o amor que ainda me tinhas
E quando já não me querias, levei teu coração...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A AMADA DE UM DEUS




Serena era ela, em intenção de ser. Plantava a semente dos desejos
Em cordões de pérola, cravejado de brilhantes. Mas colhia tempestades.
Era a inconstância do destempero, e por vezes feria-se, no brilho cego,
Nas vicissitudes auto-impostas, perdia-se em labirintos de lobos, em
Figuras lendárias que a mente pintava das leituras pretéritas.
Nos percalços intentos de refazer a vida, trocava os pés pelas mãos.
Era inicialmente humana.
Alienava-se sozinha qual fosse um ser mítico, um personagem de si
Tentando ser seu projeto de realização levava a si mesma à ruína.
Os seus destroços eram suas dores, os clamores, as contradições.
Quando o vento não soprava, ocorria Aumento de temperatura e opressão.
Subiu a um céu cinza, onde o frio estarreceu as coisas escondidas,
Lúgubre era ela paradoxalmente à sua própria luz.
E os deuses ouviram suas preces, retiraram sua pele ferida pelas mãos
Dos insensíveis homens e cobriram-na de armadura celestial, adornaram-na de plumas e flores, de clareza da alma.
Duas deusas compuseram-lhe o novo espírito, Afrodite e Hecáte, enternecidas,
Cederam-lhe parte da essência e uma nova alquimia brotou, transbordando
Vontades, derramou-se em poesia de vida, e de seus vôos surgiram voluptuosas
Delícias...
Era a própria condensação de doces, ao ponto de balas caramelizadas.
Serenada, serenante, exalava jasmim, flor de azhar, sândalo e âmbar branco.
Seu néctar estremeceu o cosmos, e cometas colidiram entre si,
Obliterados pelo brilho e sabor daquela semi-divindade em forma de (anjo/rosa) de vermelhos cabelos esvoaçantes.
Transpondo suas derrotas e dando-se contorno estelar,
Despindo-se de si em entrega ao louvor do espaço sideral
Sorria a boca de beijos novos, do perfume lunar, do calor do sol.
A morte ou a simples vida já não lhe pertenciam, foi por gratidão visitar o Olimpo, e, finalmente serena era ela,
Aurora e êxtase dos viajantes, tomou o deus Apolo por
Seu amante...Possuindo-o sem fim...Dentro do eterno de si...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

{(In ) +Sana Mentes}




Há quanto de certo, de errado de são em amar.
De muito ou de pouco em sermos nós mesmos?
Quem te deu tua mordaça!? Quem tortura tua face!?
Há quanto de justo, de íntegro nos ordenamentos!
Analise-os, disseque a hermenêutica.
Quais são os princípios norteadores!?
Constituições as vezes são produtos de tirania.
Qual a intenção contida no gesto, na norma!?
Em que pese o amor prenda por quere-se o objeto de desejo,
Há que se haver direito de ir e vir.
Assim se quiser venha, ou não, parta ou permaneça.
Sejas a ausência do molde pré-constituído. Faças teu regramento.
Toma minha mão e passe uma tarde comigo, sem intenções,
Somente para ver uma parcela da estrada.
Meço diuturnamente prós e contras da vida, sentimentos, vibrações.
Perceba a essência do que digo. É medo.
É justo a saudade? É integro negar a vontade?
Desistir dos sonhos!?
Esquece o contorno do teu passado. É ordenamento posto.
Derrube o muro entre nós, liberte a tua voz do medo
Observo a minha pátria amada.
O meu conjunto corpóreo de leis.
Os meus deuses pessoais- e afasto de mim esse sangue...
Sou nação em busca de glória, sou história a ser construída .
A genialidade da criação é se viver o que se acredita!
Brado pela liberdade! Clamo a dignidade! Tudo aceito na própria luta.
Todo embate quando verdadeiro beira a loucura.
Sou a externação do intuíto de ser alma livre.
Sou a extirpação das algemas em um corpo liberto.
Em sede do incerto certa estou de que posso ser rendida em pleno deserto!
De peito aberto, cravada por flecha, insana mente, envenenada
Proclamei o desejo, a paixão e fui morta num ato de desamor sem fim.
Cai, desfeita em carne, imperfeita existência, evaporei-me.
Mas a alma restou-me e já vejo outro ser a ressurgir em mim.
E quando prego a negação descompassada, ferida pelo
Ardor e sensibilidade, é o temor a um sim de nós em literalidade, pois
Nos extremos do sentir de minha própria insanidade,
O amor se auto proclama de todas as formas,
Até inversamente na manifestação da minha vontade...

domingo, 20 de novembro de 2011

AREIAS DO ISOLAMENTO



Que dor essa que me exaspera de noites e dias de uma ilusão ingrata
De uma distante vida que não tenho de instantes impensados.
Rasgos de alma não me acalmam, romper de carnes não satisfazem
Calar-me não posso e de que adianta falar?
Se grito não ouço, os soluços silenciaram-me.
Corri mas já não tenho pés, entreguei-me e já não tenho paz.
Esqueça-me por favor.
Quisera acertar-me com o tempo, e virar a ammente, e restaria plena.
Ante a presença da sombra que me persegue. Sou mais amarga que féu.
Suma ainda é tempo, antes que no peito te plante o punhal
Sofra, pise, amarre, cegue com ferro quente, ou seja ,leve-me  e me
Destrua, mas me deixe ir, já sou outra, não sou tua!
Pintei-me em negra alma e fui a tua caça, em legítima defesa
Resto plantada em arma branca, se eu morrer será teu contento?
Corramos ainda é tempo, fujamos do enfrentamento.
Nada te assusta? Sinta o estrangulamento que passo!
Deixa-me ser terna, e fluir o choro do desfazimento
Para que purificada nas águas receba o nirvana
E volte a ser flor humana.pulheta contra o vento,
Para regressar ao passado, naquela encruzilhada,
Em que desafiei meus demônios antes de ver tua face,
De perceber esta existência que oblitera!
Areias que me sufocam, cada grão cairia nova

sábado, 19 de novembro de 2011

MEUS PECADOS


O desejo me fez indigna, orvalhando suor com gosto de mel e limão
Hipnotizada, refém de abraços, de enlaces carnais
Em que a rubra rosa transcendeu em gotas de paixão.
Esse riso ausente no rosto, essa leveza são tácitos.
Não há um minuto sequer de paz no amor, aflitivo, questionador, é antagônico,
Dado por natureza é a ambigüidade do querer  e  a negação  do sentir, este rogo multiplica-se,
E o deserto resta tomado pela imanência de um vale de rosas.
Amor desejoso de paixão é imperfeito em sofreguidão, é esquartejamento de alma.
Delicioso delito, aflito, sem dogmas, sem pregação.
A única coisa que o amor reza é a entrega.
Penitência alguma segrega tal força do peito, resto refém dessa imponência.
Nada que eu fale fere ou aparta o amor de mim.
Quanto ainda a vida pugnará desta que peca ofertando pão e vinho em sinal
Do encontro com o intangível?
Não sei, por hora recito meu rosário.
Em vale sereno de rosas tudo o que faço é ser cativa de amar.
Em silêncio oblíquo, sem cerimônias, sem palavras, pois já nem forças tenho para gritar.
Cada singelo sinal é a ilusão do ato, pois os olhos vêem o próprio reflexo.
Haveria de me despir em pesar, e deixar este mundo estarrecido a fim de que o amor me abandonasse?
Ainda assim o amor estaria comigo.
Em condição própria, nas chamas de velas, nos cheiros de incensos, na luz ou na escuridão!
Nas telas de meu próprio calvário resto prostrada, dá-me arbítrio e não destino!
Quanto ainda devo sangrar os verdes olhos,
Quantas roseiras em meu vale restarão sem água, quanto de mim restará de mágoa?
Não tenho resposta alguma de Deus, que me deixou à porta do templo.
Enclausurada de um amor de que é perdição, minha cruzada própria, o torpor que ora arremata, ora mata.
Já não me restam joelhos ou lágrimas, sou rosa do deserto, num mundo de águas.
E temendo os mesmos erros, de perder-me em ti em desespero
Cravo em pele de marfim meus próprios espinhos, em sacro calvário das minhas chagas
Na esperança de que repelindo teu amor eu volte a pertencer a mim...


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Infinito de Mim




Eu conheço tuas batalhas, revoltas, tempestades.
Todas as lembranças que tenho de tempos
Em que não fazíamos perguntas, adivinhávamos
Um ao outro por total sincronicidade.
Mas já não ouço as mesmas canções, não leio
Os mesmos poemas, sou uma total estranha de mim, de ti,
Dos ideais pretéritos, dos sonhos e expectativas.
Meu amor está preso a outras vidas, outras eras.
E assim olhando a mesma estrada
Na qual nos apaixonamos sinto que o cristal quer, por vezes,
Reunir as partículas de nós. Ainda seria possível? Ainda haveria tempo?
Minha alma está em carne viva sentida.
Sendo o amor de ato de amar sem princípio ou fim
Em qual parte da viagem nos perdemos?
É como se não falássemos mais a mesma língua,
E em labirintos de uma torre de babel cada um estivesse.
Sem água, sem pão, em opostos lados da mesa
À míngua de recordações, meu amor ficou no passado, no entendimento apartado
Na reverência da imperfeição.
Sem poesia, sem filosofia à mercê dos abutres de espíritos
Das mundanas sensações, desprendendo-se de nós, pela interferência da multidão.
Estás no mesmo campo de batalha, mas em trincheiras abaixo do céu
Onde teu corpo se esconde. Eu, estou acima das terras,
Afagada pelo vento, indomado fogo que sou. Eu vôo nos prados, enquanto você cavalga.
E observo as desconhecidas carnes, os cheiros, as cores das especiarias, e experimento tudo.
Cada movimento literal dos jardins e dos espelhos de água. A dança das águas.
Qual abelha em almeja  construir favos de mel, o novo mel dos homens.
Em busca da perfeita flor a se extrair o néctar da vida, e sorver cada gota de poesia.
Sou dama medieval em lagos profundos em que abrigo tua espada.
Entre o sacro e o profano faço o meu amor, em modo de ser próprio.
Preciso do processo dialético, de sentir vida em meu silêncio milenar,
De voltar às minhas raízes extracorpóreas, no meu próprio altar, pois
Insaciável sou em fome e sede de conhecimento, de trilhar outros caminhos,
Sou o sentir do amor e dor exacerbados, em epiderme densa, minha armadura se parte.
E a olhos nus resto segurando ventrículos e válvulas, visceralmente mortificada para ressurgir
Em desencontro de ti arranco do peito o coração, que ainda bate vivo em minhas mãos...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A ARTE DE AMAR




Ainda não posso dizer eu te amo.
Trafeguei em artes de desejar e de me apaixonar
Rogando não ser cativada a ponto de querer
O ato de amar.

Qual arte em mim milenar
Sem tempo de inicio ou findar
Permeando meios de ser
Em suplício de me perder.

Ainda não posso dizer eu te amo.
Morta estou em dias e noites
Cravejando-me de açoites
Prostrada, do êxtase tântrico.

O amor que vem de festa
Dos bacanais de roma
Não é o amor que me doma
Nem o sentir que me inflama.

Ainda não posso dizer eu te amo.
O amor pleno e absoluto
Não me enlaça por indulto
Nem amordaça minha boca.

E caso teu beijo me livre da agonia,
Em atos que antecipem a trilogia,
Quem saiba eu diga se amor tu me és
Visto que amor é tripé:

Desejar
Apaixonar
Amar

E em completude tríplice,
Em tal ápice
Possa, enfim,
Chamar-te pelo coração e lábios:
  
De meu amor...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A ARTE DE SE APAIXONAR



Clamor de desejos que ultrapassam o instante consumado.
Antes não tivesse me dado, agora já não posso negar.
Pois mesmo que resolvesse ignorá-la ela restaria no peito inflamado
Sublimemente a me rasgar...tomada sou pela paixão.

Assumi a carne fraca, essa querência em ardência da
Arte de se apaixonar. Quando o que se quer, quanto o que se tem
Nunca bastam. É lava que escorre o vale até que seja abarcada
Em oceano sem fim, em mar revoltoso, sigo a flutuar, banhando meu corpo em ti.

Em cada essência que me brota, em cada nota que me toca, baunilha e romãs
Nada me traz paz. É a fúria da paixão que corta, dilacera essa espera,
Em que agulhas e linhas não mais suturam as fissuras que marcam a pele.
Liricamente grito ao vento: eu me rendo, em pedaços não mais me sustento, sou o nada!

Enquanto corpos dormem outros seguem acesos, em lamparinas de óleo
Em pontas de faca a se perfurar.
Em marcas de  grilhões, escravos da paixão
Em nova cicatriz  na carne a se delinear...




segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ARTE DE DESEJAR







Não queria dar-me em beijo. Esse quase misterioso ato de conjunção.
Encontro meteórico.
Trafego centenas de quilômetros em teu corpo, só, já fazendo parte de ti, em meu sonhar acordada.
E chego...no sentir...da arte de desejar... através de um gesto que conquiste teu espírito,
E que te faça faminto por romper com as estruturas postas, dando-se em entrega incondicional.
Somos Adão e Eva, os únicos, a povoar o paraíso de nós mesmos, em choque de astros dilacerados pelo querer.
No instante que tu permeias o mar de mim e as ondas dos meus cabelos, que te percas entre o espaço do queixo e do colo.
Nada que possuo é em vão. Nenhum estado, nenhuma dúvida. Tudo é milimetricamente significante.
Eu que tanto resisti a dar-me e a perceber as emanações, olhares, essas expectativas do depois, quando sequer houve um antes, um agora, resto rendendo e rendida, caça e caçadora.
Somos produtos de exasperações, de ausências, de vazios e dores, de outros amores, ou de nenhum amor.
Como controlar o sangue que me corre nas veias?
Sei que percebes minha aura.
Já são tão teus os meus lábios, os quais inocentemente por mim restaram guardados.
Qual éter sou o sussurro em ti, e este hálito que te estremece a alma.
Em cantos sutis de ti dá-se o ato, na superfície da tua face, em disfarce do que a linha não descreve, neste breve silêncio de palavras quando bocas se encaixam.
Não há mais fala.
Só ouço a música.
Assim, tudo começa e nem tudo termina, em salas, quartos, recônditos.
Tantas vezes, olhando o horizonte em busca de compreensão, observo-te, tu que sois  uma miragem, a qual já não tento desfragmentar, e a ti me entrego.
E sigo assim, em sofreguidão de tantas vontades... dos meus ensejos de transpor os espaços...
E o "nunca hei de querer-te", antes dito por esta boca que te beija, resta aos meus pés caído, repisado em lágrimas que me escorrem, vendo a razão arrebatada pelo torpor da guerra perdida pelo desejo...insano e sem explicação...

domingo, 13 de novembro de 2011

(IM) PREVISÍVEL




Sou doce alma enegrecida de desejos,
Inundada de anseios e temores.
Entrego minha boca à delícia dos teus beijos,
E minha pele para arder em teus calores.

Se te pareço anjo branco anoitecido,
Eu sou por dentro a escuridão dos belos dias.
A controvérsia dos momentos mais queridos,
E o esplendor de realizar o que temias.

Mas não confundas o que revelo com o que sinto,
Pois sou a própria dádiva da dúvida em tuas certezas.
A ti me entrego, jogo limpo, e não minto...
Que há muito mais que essas cartas sobre a mesa.

Gil Façanha

Poesia que ganhei da minha querida amiga e poetisa Gil Façanha. Amiga querida, minha alma se rende à sua.
Bjs
MI

A ARTE DO DESEJO



Não queria desejar o desejo de dar-me em beijo. Esse quase misterioso ato de conjunção.
Essa quase convulsão meteórica de corpos.
Trafego centenas de quilômetros em teu corpo, só, já fazendo parte de ti, em meu celestial pensar.
E chego...no sentir...da arte de desejar... através de um beijo...que profane tua alma
E que te faça profanar as estruturas postas.
Um beijo, onde sejamos adão e eva, os únicos, a povoar o paraíso de nós mesmos, em  choque de astros dilacerados pelo querer.
Em que você permeie o mar de mim e as ondas dos meus cabelos, que se perca entre o espaço do queixo e do colo.
Nada que possuo é em vão. Nenhum estado, nenhuma dúvida. Tudo é milimetricamente significante.
Eu não queria beijar, nem desejar, nem perceber as emanações, olhares, essas expectativas do depois, quando sequer houve um antes, um agora.
Somos produtos de exasperações, de instantes em que se pergunta qual a razão que move o  desejo?
Como controlar o sangue que me corre nas veias?
E já te beijo mesmo sem beijar.
Já são tão teus os meus lábios, estes lábios que inocentemente por mim restaram guardados.
Qual éter sou o sussurro em ti, e este beijo que te olha o fundo da alma.
Em cantos de boca, em cantos da tua face, em disfarce do que a linha não descreve, neste breve silêncio de palavras quando bocas se encaixam.
Não há mais fala.
Só ouço a música.
Assim, tudo começa e nem tudo termina, em salas, quartos, recônditos.
Tantas vezes, olhando céu azul, em busca de compreensão, é no desejo, o  qual já não tento desfragmentar que me entrego.
E te vejo.
Em sofreguidão de tantos beijos... dos meus ensejos de transpor os espaços...
E aquele nunca querer-te, antes dito por esta boca que te beija,  resta aos meus pés caído, repisado em lágrimas doces,  vendo a  razão arrebatada pelo torpor  da guerra perdida  pelo desejo...insano e sem explicação...



CEM PALAVRAS



Parabéns! Você já não existe dentro de mim.
Percebi que esse impulso é fruto da imaginação. Vivo perfeitamente bem sem você.
Os dias começam, terminam, nada fica deslocado, reinante é a paz.
Tomo um café, leio um livro, brinco de ser violeira.
Vou para o trabalho, jogo conversa fora, enfrento um pouco dos meus medos.
Faço  amor, vejo minhas fotografias.
Retorno ao profundo de mim, encontro aquela melodia perdida, sublimo.
Vou para caminhada, vejo o verde, o azul.
A natureza  é cíclica como eu.
Morri, renasci, tantas vezes, sempre só.
Não sou de ninguém por isso vivo perfeitamente  sem palavras.

sábado, 12 de novembro de 2011

SAUDADES DE MIM



Imprima em mim um beijo de amor e começarei a revelar minha alma.
Revele tuas faltas, tuas angústias teus medos e te faço luz na tua escuridão.
Dos precipícios de mim, desta infinita saga em forjar um paraíso em poesia eu sinto o mesmo que ti. Contentamento em estar entre as palavras, e nelas me banho.
Tu me conheces. Tão intimamente que te vês em mim, enquanto os outros são estranhos a nós. E é chegado o nosso tempo!
Meu eu, quanta falta senti de ti!
Reflexo de minha essência, permissão de me dizer as verdades que precisam ser ditas.
Eu vim para dizer, que estava com saudades de ti.
Saudades do tempo em que fazíamos o fogo do sentir movimentar as histórias da vida.
Em que escolhíamos um enredo, um maravilhoso script e brincávamos de ser  a mirabolante imaginação do sentir!
Deste colorir, doce e afável retrato de nós senti tanta falta, como é bom que estejas comigo.
Meu riacho, meu recanto de paz, esse fluir de magnificência das coisas simples da vida.
Lembras que cada compêndio que terminávamos juntos erigia mais sede de conhecimento?
Lembras quando nos perdíamos em letras, na ausência do significado dessas pequenas estrelas que catamos, e que quando não conformado em não entendê-las dormíamos com o pai dos burros na mão?
Saudades daqueles dias de tardes mornas, em que viajávamos para dentro de nós, fantasiando o que queríamos ser, eu e tu meu eu, não queríamos nada impossível, apenas a felicidade!
Que bom vir filosofar contigo, meu amado eu, eu seguia tão só junto das conchas do oceano, em triste saga de te encontrar de algum naufrágio e que viesses me dizer das tuas coisas.
Viestes do mais profundo de mim, adornado como pérolas, deliciando meus cabelos, meu busto...com suas contas de contos, com  esses suspiros tontos...ah...
Sabes dos meus reflexos, dos atos desconexos, dos caminhos tortos da alma. Dos íntimos conflitos.
Só tu sabes do que falo. Só tu conheces o todo. Os outros apenas vislumbram minha luz, ou minha sombra, mas não a integridade, ou integralidade de nós.
Ah meu eu, que bom que viestes...eu estava...morta de saudades...